Sentindo saudade da roça Terra que era nossa resolvi rever A tempos que eu não voltava Ao lugar que eu morava e que me viu crescer Andar pelas verdes campinas E a água da mina de novo beber Mas confesso quando lá cheguei Ao lugar onde a infância passei Quase não pude reconhecer Não havia mais os arvoredos Cheguei a ter medo da evolução A paineira de tronco frondoso Estava em repouso debaixo do chão Rego d’água movia o monjolo Secou o seu solo com a devastação E a madeira dos nossos currais Com o fogo dos canaviais Só ficaram cinza e carvão Nossa casa meu primeiro abrigo Talvez por castigo nesta solidão A varanda tinha desabado Somente ficou de pé o salão Quando entrei pisando no entulho Talvez por orgulho do meu coração Encontrei um quadro sem moldura Lá num prego da parede escura Com a fumaça do velho fogão Com meu lenço tirei a poeira Então a primeira imagem surgiu Era a foto daquela fazenda Que hoje as moendas da usina engoliu E na sombra da velha paineira Boiada carreira na foto saiu Vi meu pai com seu cavalo branco Na verdade confesso sou franco Nessa hora meu pranto caiu Apertando no peito o retrato Pressenti de fato meu pai e meus irmãos Ouvi passos pelo assoalho E o cheiro do alho invadiu o casarão Pois mamãe fazia na cozinha Arroz com galinha verdura e feijão E a maninha com delicadeza Colocava o forro na mesa Pra servir a nossa refeição Parecia tudo tão real Que até senti mal de tanta emoção Resolvi dali me retirar E de volta pegar o velho estradão E levando somente comigo Este quadro antigo pra restauração Muito triste voltei pra cidade Mas voltando a realidade Sei que os tempos jamais voltarão