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O legado de Marília Mendonça: talento e empoderamento feminino

O legado de Marília Mendonça na indústria musical de nosso país é inegável, visto que em pouco tempo, quebrou paradigmas com uma voz única. Além de ser conhecida como “rainha da sofrência”, Marília foi a principal líder do movimento intitulado como feminejo, com mulheres protagonistas no sertanejo.

Legado de Marília Mendonça é irretocável
Marília Mendonça, uma das artistas brasileiras mais importantes do século XXI (Foto/Divulgação)

Nomes como Naiara Azevedo, Maiara e Maraisa, Simone e Simaria e demais artistas participam desse movimento, levando letras de empoderamento feminino a todo o Brasil. Assim, os hits como Infiel, Amante Não Tem Lar e Supera foram sucesso na TV, streaming e rádios, consolidando a carreira da jovem artista.

No dia 5 de novembro de 2021, Marília e mais quatro pessoas sofreram um acidente de avião fatal. Além de cinco vidas, a tragédia deixou a cultura brasileira órfã de uma de suas vozes mais emblemáticas. Então, registramos aqui nossa homenagem à compositora, intérprete, mulher, mãe e artista que deixou marcas de sofrência e amor em cada um de nós.

Talento tipo exportação: de Goiás para o mundo

Em primeiro lugar, Marília nasceu em 1995 na cidade de Cristianópolis e criada na capital do estado, Goiânia. Apesar da pouca idade, ela já possuía dez anos de carreira, que começou como compositora para grandes nomes ainda adolescente. Quando o seu primeiro EP foi lançado, revelou o hit Infiel e o seu talento ao Brasil, tornando-se uma das músicas mais ouvidas de 2016.

Depois disso, ela não parou mais. No ano seguinte, foi a artista mais ouvida no país, com apenas 22 anos de idade. Músicas com temas como traição, bebidas com as amigas e realidade dos relacionamentos eram parte do seu repertório, tornando suas composições populares entre fãs. Com o projeto Todos os Cantos, levou shows gratuitos a todas as capitais e foi liderado por hits como Ciumeira e Intenção.

Mas foi durante a pandemia que seus números se tornaram ainda mais expressivos. Sua live, realizada em abril de 2020, quebrou recordes mundiais, assumindo o posto de mais vista do YouTube, com 3,2 milhões de espectadores simultâneos. Agora, nas plataformas de streaming como Spotify e Deezer ela se tornou a artista mais ouvida durante o ano todo, com 8,3 milhões de ouvintes mensais.

No dia 6 de novembro, 74 músicas estavam no Top 200 do Spotify, sendo que 17 delas já ocupavam o Top 50. Com o projeto Patroas, as faixas Esqueça-me Se For Capaz e Todo Mundo Menos Você ocupam o primeiro e segundo lugar do Top 10.

Assim, seus números resultam em 22 milhões de inscritos no canal do YouTube, 14 bilhões de visualizações e 21,3 milhões de seguidores no Spotify.

Composições nas vozes de outros artistas

O legado de Marília Mendonça não se restringe apenas aos grandes hits próprios. Antes de tudo, ela era compositora desde os 12 anos de idade, com noção de receptividade de público e técnicas de composição. Assim, ela passou a ser admirada por grandes nomes da música sertaneja, como Jorge e Mateus.

Dentre as canções escritas por ela, algumas viraram sucessos de gravados por outros artistas renomados, antes mesmo da ascensão de sua carreira. Confira algumas delas.

Minha Herança — João Neto e Frederico

A canção Minha Herança, interpretada por João Neto e Frederico, foi lançada em 2011 para o álbum Ao Vivo em Palmas. Assim, a faixa já soma mais de 2 milhões de visualizações no YouTube.

Calma — Jorge e Mateus

O clipe de Calma foi gravado para o projeto de 10 anos da dupla Jorge e Mateus. Nesse sentido, o álbum e o vídeo que ilustra a canção foram gravados em 2015, em Brasília e tem cerca de 88 milhões de visualizações.

É Com Ela Que Estou — Cristiano Araújo

Assim como as demais canções, É Com Ela Que Estou foi uma dos maiores sucessos de Cristiano Araújo, chegando a ocupar o 3º lugar na Billboard Brasil. Além disso, a canção ganhou um livro virtual feito por uma fã, fazendo alusão ao cantor e sua namorada, que faleceram em um acidente.

Flor E O Beija-Flor — Henrique e Juliano

Infelizmente, a canção que celebrava o início de uma grande amizade entre os cantores, ficou marcada também pela tristeza da partida de Marília. Assim como ela participou de Flor E O Beija-Flor, eles participaram de Impasse, reforçando a relação de padrinhos um do outro.

Lembrando que Flor e O Beija-Flor é fruto de uma parceria de Marília com o compositor Juliano Thcula.

O legado de Marília Mendonça: o surgimento do feminejo

Mesmo que não tenha sido a intenção principal da cantora, é inevitável a presença do feminismo no legado de Marília Mendonça. Cantora solo, mãe, mulher e fora do padrão estético proposto às figuras sertanejas, Marília entoou versos sobre a amizade e valorização entre as mulheres.

Nesse sentido, Marília expôs os sentimentos não só daquelas que foram traídas, mas das amantes que também sofrem. Como pioneira em um meio majoritariamente masculino, ela abriu as portas para que Naiara Azevedo, Simone e Simaria e Maiara e Maraisa pudessem entrar. Nascia aqui o Feminejo.

Como resultado desse movimento, iniciava também o projeto Patroas, que empoderava as mulheres sobre seus direitos de beber e se divertir. Mais do que isso, também dava voz a temas importantes, como violência doméstica.

Ainda quebrando paradigmas, Marília levou a força feminina do sertanejo para trabalhos com Ivete Sangalo, Anitta e Luiza Sonsa e Gal Costa.

A “Rainha da Sofrência” será eterna

Além de fazer todo mundo chorar com a sofrência presente em suas músicas, Marília Mendonça levou libertação às mulheres e inovação para a indústria. Mais do que isso, arrastou multidões, ensinou a dizer não (aos padrões, ao machismo e a objetificação) e mostrou que música sertaneja também representa.

O legado de Marília Mendonça não deixa apenas o empoderamento feminino, mas a certeza que o talento para compor e a potência vocal ficaram eternizados. Por mais clichê que seja, sabemos que “todo mundo vai sofrer” com a sua falta. Já estamos…

Foto de Laryssa Costa

Laryssa Costa

Jornalista, também graduada em Letras e com especialização em Música e Negócios. Amante e pesquisadora da música, viciada em shows e biografias. Escreve para o Cifra Club desde junho de 2021.

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