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Neil Peart: relembre o legado do baterista da banda Rush

Neil Peart, baterista da banda de rock progressivo Rush

Neil Peart perdeu a batalha contra um câncer no cérebro (Foto/Internet)

Neil Ellwood Peart nasceu m 12 de setembro de 1952, em Ontário, no Canadá. Ainda na adolescência, aos 13 anos, começou a estudar bateria. Depois de dois anos morando em Londres, ele voltou para as terras canadenses. Cinco anos depois se mudou para Londres e só voltou a morar no país de origem em 1972.

No ano de 1974, já estabelecido no Canadá, Neil Peart assumiu as baquetas do Rush. Lembrando que a banda foi formada em 1968, pelo guitarrista Alex Lifeson, e contava com um batera chamado John Rutsey.

O trio Rush no começo da era Neil Peart

A partir de meados da década de 70, o Rush virou potência mundial do rock (Foto/Internet)

Com a entrada de Peart, a banda teve um ganho técnico imensurável. Além de baterista, ele também passou a ser o principal letrista, pois, o baixista e vocalista Geddy Lee não tinha muito interesse nas partes textuais das músicas. Portanto, amigo leitor, graças ao fascínio de Neil por literatura, as músicas do Rush sempre abordaram temas de ficção científica e fantasia.

“Toda a unanimidade” é burra, como sabiamente pontou Nelson Rodrigues. Porém, a partir esqueminha abaixo, você entenderá que até mesmo os papas da literatura cometem eros:

  • Hors concours é uma expressão de origem francesa, cujo significado é “fora da competição” ou “fora do concurso”
  • Trata-se de um termo utilizado para classificar algo excepcional que vai ser apresentado numa exposição, sem estar necessariamente competindo com os demais
  • Apesar da subjetividade, o hors concours é considerado de qualidade superior, dispensando necessidade/tempo/espaço para defrontar-se com seus pares
  • Pois bem:  na música, Peart sempre foi hors concours e, ainda assim, jamais deixou de ser votado nas listas de melhores
  • Pode não ser o primeiro em todas as listas de melhores bateristas, de fato. Porém, todas as listas concordam que com as baquetas em mãos, Neil “batucou” um legado incomparável

Sob a influência dos bateristas Carl Palmer, do power trio progressivo Emerson, Lake & Palmer; Keith Moon, da vigorosa banda The Who; e Buddy Rich, o cara que dominava a fúria agressiva do jazz, Neil Peart construiu um novo conceito na arte de tocar bateria. Com sua pegada sempre antenada na música erudita, no jazz e no rock, ele introduziu uma forma de tocar focada na composição, ou seja, Peart abriu mão dos improvisos e deu vida à figura do batera compositor.

O Legado de Neil Peart

Com base nas linhas acima, bem como no seu conhecimento précio, você percebeu que Neil Peart desenvolveu técnicas diferenciadas. Com sua habilidade incomum para criar, conduzir e arranjar melodias e harmonias, ele tornou-se um artista à frente do próprio tempo e, por consequência, reverenciado e imitado por todo músico que aprecia o lado técnico da coisa.

Quem começou a tocar bateria por causa de Neil Peart foi o músico João de Paula, instrutor de bateria do Cifra Club, que já fez parte de uma banda cover de Rush. Em contato com este que vos escreve, um muito abalado João explicou a importância de Neil para sua carreira.

Rush, power trio de rock progressivo

O power trio Rush em algum momento da década de 2010 (Foto/Internet)

“Neil Peart é influência direta em todas as conquistas que eu tive nos campos profissionais, familiares e até materiais. Para mim, ele é referência tanto na forma de tocar, como na forma de se portar e, também, no jeito de pensar”, disse.

Segundo João de Paula, medir a obra de Neil é impossível. Porém, com todo conhecimento que lhe é caro, João listou o Top 5 dos momentos mais inventivos da carreira do já saudoso mestre das baquetas.

1. La Villa Strangiato

Registrado no disco Hemispheres, lançado em 1978, esse tema instrumental é fascinante. Com 12 momentos, distribuídos em pouco mais de 9’30”, La Villa Strangiato é a rapsódia do power trio de rock progressivo.

2. The Main Monkey Business

Esse tema instrumental faz parte do álbum Snakes & Arrows, de 2007. Trata-se de uma música ousada e que desafia todos os paradigmas do rock feito no novo milênio.

3. YYZ

Terceira faixa do lado A do disco Moving Pictures, YYZ é uma verdadeira experiência sensorial. A maneira como Neil conduz o arranjo faz com que a canção desperte as mais variadas sensações no ouvinte, isto é, o clima da música transita entre a fé e o desespero, a tensão e o alívio orgasmático.

4. Red Barchetta

Imortalizada no clássico Moving Pictures, que chegou às lojas em 1981, essa música tão cheia de progressões e soluções complexas de arranjos foi gravada num único tema! Só sendo muito gênio pra conseguir uma proeza de tamanha envergadura.

5. Nobody’s Hero – Rush

Terceiro single do álbum Counterparts, que o Rush lançou em 1993, a dramática Nobody’s Hero fala sobre pessoas que morreram, mas não receberam a devida atenção. Uma das situações presentes na música é homossexualidade de homem chamado Ellis, amigo do baterista Neil Peart. Sendo assim, temos uma canção que mostra o lado humano de Neil.

Aprenda a tocar Tom Sayer

Abaixo, você confere a videoaula de bateria da música Tom Sawyer, o maior sucesso comercial da carreira do Rush.

Mas se você não é batera, fique tranquilo. A galera do Cifra Club tem gravou a aula dessa música no baixo e na guitarra.

Neil Peart aposentado

Peart sofria de tendinite crônica e problemas no ombro. No mês de dezembro de 2015, o músico anunciou que iria se aposentar. Discreto e reservado, ele curtiu seu tempo fora da cena artística de maneira tranquila e serena. Em uma entrevista, ele comentou que estava num momento bem família.

Neil Peart, baterista da lendária banda Rush

Neil era um homem de poucas palavras e de poucos sorissos (Foto/Internet)

Em janeiro de 2018, o guitarrista o guitarrista Alex Lifeson decretou o fim das atividades do Rush. “Não temos mais planos para discos ou turnê. Basicamente, a banda terminou. Foram 41 anos e sentimos ter sido o suficiente”, disse.

Independente dos anúncios sobre sair de cena, os amantes da boa música nunca deixaram de esperar por mais um retorno do Rush. As esperanças, no entanto, acabaram no dia 10 de janeiro de 2020. Neil tinha 67 anos de idade e lutava contra um câncer no cérebro.

De acordo com a revista Rolling Stone, o lendário baterista morreu na última terça-feira (7). Ainda segundo a publicação, ele enfrentava a doença havia três anos. Bastante reservado, bem com recluso, Peart lidou com a situação de forma silenciosa.

Neil Peart já deixou saudades e, felizmente, entrou pra história da música muito antes de sair da vida…

Foto de Gustavo Morais

Gustavo Morais

Jornalista, com especialização em Produção e Crítica Cultural. Pesquisador independente de música, colecionador de discos de vinil e mídias físicas. Toca guitarra, violão, baixo e teclado. Trabalha no Cifra Club desde novembro de 2006.

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