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Quem são os malditos da MPB?

A história da Música Popular Brasileira tem muitas nuances. Uma delas é um movimento que surgiu a partir de um grupo de artistas conhecidos como os malditos da MPB.

São chamados de “malditos” os músicos que caminharam pelo experimentalismo, cantaram sobre temas inconvenientes e iam contra o que apelava para a popularidade do momento. Não se encaixavam exatamente em lugar nenhum. Nem bem Tropicália, nem bem Jovem Guarda, e frequentemente independente.

Luiz Melodia, um dos representantes do grupo dos malditos da MPB, tocando violão
Luiz Melodia, “pérola negra”, maldito supremo da MPB (Foto/Divulgação)

Esses artistas deixaram sua marca entre as décadas de 60 e 80, ainda que de maneira mais sutil do que os grandes nomes da época. O sucesso comercial vinha ocasionalmente, mas não era o que os movia.

Conheça os malditos da MPB

Ainda que de backgrounds distintos, a época era comum a todos os malditos: um momento de grande perseguição à cultura e muita censura. Esse período histórico influenciou desde a produção dos cantores até a sua relação com o público.

Houve casos em que, bem depois da ditadura, o “mainstream” acabou abraçando alguns deles. Não é à toa que boa parte desse movimento só foi estudado e compreendido anos depois.

Também vale dizer que alguns nomes tiveram apoio e até participaram de músicas com grandes artistas, como você verá a seguir.

Já deu para perceber que o pessoal não estava para brincadeira. Não dá para falar de todo mundo que fez parte do movimento, mas alguns são impossíveis de não mencionar. Descubra, agora, quem foram os principais malditos da MPB!

Tom Zé

O baiano Tom Zé possui mais de cinco décadas de carreira, em seus 85 anos de vida. Sua trajetória inclui colaborações importantes com os populares da cena — como Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Junto a esses e também Djalma Corrêa, gravou o álbum Tropicália ou Panis et Circensis, marco definitivo para o Tropicalismo.

Apesar de ser também um tropicalista, Tom Zé seguiu com uma carreira própria mais experimental e singular. Assim, tornou-se simultaneamente um dos malditos. Por isso, ele é um ótimo exemplo de como a contracultura da MPB não é tão direta ou linear.

Tom Zé segue na ativa até hoje. Na última década, ele lançou cinco álbuns, fez diversos shows e até caiu no funk. Conhecê-lo é conhecer o limiar entre o Tropicalismo e os Malditos. Ouça Augusta, Angélica e Consolação e entenda:

Luiz Melodia

Do Rio de Janeiro para o mundo, Luiz Melodia viveu uma relação descontinuada entre os holofotes e as sombras da MPB. Foi indiscutivelmente uma força poderosa; suas composições foram incluídas em trilhas sonoras de novelas da Globo e cantadas como hits pelo país todo.

Na verdade, foi assim que sua carreira deslanchou. Sua música Pérola Negra foi interpretada por Gal Costa e conquistou o Brasil. Depois, Estácio, Holly Estácio foi parar na voz de Maria Bethânia, e só então Luiz Melodia ganhou projeção mundial.

O cantor era considerado um rebelde, alguém que não seguia as convenções. Cantava do rock ao soul, do blues ao samba. Por isso, mesmo em seus momentos de maior sucesso, era considerado um dos malditos da MPB.

Luiz Melodia nos deixou em 2017, após mais de 50 anos de carreira e 16 álbuns de estúdio — o último, Zerima, de 2014. Confira uma apresentação do artista da música que o lançou para o mundo:

Jards Macalé

Jards Macalé é outro carioca “maldito”. Também viveu em um círculo social repleto de grandes nomes, como Caetano Veloso, Vinicius de Moraes, Maria Bethânia, Paulinho da Viola e Gal Costa. Com Gal, inclusive, chegou a trabalhar em conjunto, como diretor e compositor do famigerado álbum ao vivo Fa-Tal — Gal a Todo Vapor (1971).

Jards sempre enfrentou dificuldades financeiras e de alcance por seu status de artista marginal. Fosse por problemas técnicos, pouco apreço do público geral ou perseguição da ditadura, ele é possivelmente o exemplo mais cru de um maldito da MPB.

Seu último álbum (até o momento), Besta Fera, foi lançado em 2019. Vale apreciar suas novas investidas, mas sem deixar de conferir tudo que ele criou em 50+ anos de atuação. Vapor Barato é perfeito para conhecer:

Itamar Assumpção

Além de um dos malditos da MPB, Itamar Assumpção é o grande destaque da chamada Vanguarda Paulista. O grupo alternativo abalou São Paulo entre as décadas de 70 e 80, rompendo com o controle das grandes gravadoras e fazendo música independente. Era precisamente o tipo de atuação que identificava os malditos, mas Itamar detestava esse rótulo.

O cantor não abria concessões sobre sua arte, o que originou muitas experimentações e músicas de gêneros variados, incluindo samba, reggae, funk, jazz e rock. A musicalidade era considerada “difícil” para ser tocada nas rádios, e as letras seguiam o padrão dos malditos: críticas que não apeteciam os militares.

Itamar Assumpção faleceu em 2003. Durante 30 anos de carreira, lançou 9 álbuns, além de material suficiente para que outros 3 álbuns fossem lançados postumamente. Dentre eles, os mais renomados são o de estreia, Beleléu, Leléu, Eu, com a banda Isca de Polícia; a trilogia Bicho de Sete Cabeças; e Isso Vai Dar Repercussão, em parceria com Naná Vasconcelos. Confira Nego Dito, do primeiro álbum:

Sérgio Sampaio

Seguindo os ideias de experimentação desse movimento não oficial, o “mais maldito dos malditos”, como alguns o nomeiam, foi Sérgio Sampaio. Pode ser pelo seu temperamento difícil, pela sua amizade e parceria com Raul Seixas ou pelo sucesso que alcançou e perdeu imediatamente.

O capixaba se mudou aos 20 anos para o Rio de Janeiro, onde conheceu Raul Seixas. Passou a criar composições para diferentes artistas e a trabalhar com Raulzito, enfrentando censuras recorrentes da ditadura. Só em 1972 que se lança oficialmente. E foi uma estreia estrondosa, com o single Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua, que se tornou a música do carnaval daquele ano.

Entretanto, o sucesso não o acompanhou pelo resto da carreira. Seus 3 álbuns não tiveram grande reconhecimento do público, e foi só o que ele pôde lançar até sua morte prematura em 1994. Felizmente, seu trabalho foi reconhecido nos anos seguintes, tanto que novas composições foram lançadas postumamente no álbum Cruel, em 2006.

Walter Franco

Walter Franco divide com Sampaio o rótulo de “mais maldito dos malditos”, para alguns, apesar de não ser fã do rótulo. Neste caso, o temperamento do cantor não era uma questão, mas sim a modernidade que ele trazia para sua música ainda nos anos 70.

O seu nível de experimentalismo era tanto que a primeira apresentação de Cabeça rendeu vaias no Festival Internacional da Canção. Ao mesmo tempo, ela foi escolhida como vencedora pelo júri presente, mas a decisão foi desfeita pela presença dos sensores militares nos bastidores.

Anos depois, Walter seria conhecido como um artista à frente de seu tempo. Outras composições foram aceitas com mais facilidade pelo público, como Coração Tranquilo e Feito Gente.

Franco faleceu em 2019.

Gostou de conhecer os malditos da MPB? Aproveite para compartilhar este post e mostrar para mais pessoas esse pedaço da nossa história!

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