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Você sabe como surgiu o rock no Brasil? Confira 5 marcos históricos!

O rock é um dos estilos de música mais populares do mundo. Modinhas vêm e vão, mas o ritmo regado à guitarras elétricas permanece como herói da resistência.

Segundo historiadores, o marco zero do rock aconteceu em julho de 1954, quando um então jovem chamado Elvis Presley entrou no Sun Studios, em Memphis, e gravou That’s Allright Mamma. Naqueles tempos, Presley era um desconhecido caminhoneiro e só queria fazer um agrado para a mamãe.

Apesar da importância, o trio Mutantes não inventou o rock nacional

Mutantes, uma lenda do rock nacional (Foto/Divulgação)

Com todo respeito aos historiadores, precisamos deixar uma coisa bem clara: Elvis não inventou o rock. Antes do “garoto banco, mas que cantava como um negro”, conforme classificou o dono do Sun Studios, surgir, gente como Chuck Berry e Bill Halley já eram rockers. Todavia, esse papo vai ficar para um outro post 😉

Neste artigo, o assunto é o rock and roll no Brasil. Quando será que esse tipo de cultura chegou por aqui? Qual foi o ponto da virada roqueira na música jovem brasileira? Listamos 5 curiosidades incríveis sobre a história desse estilo que começou há muito tempo, continua até hoje e só parece melhorar.

1. O marco zero

Não foi Raul Seixas, o maluco beleza; nem Roberto Carlos, como líder da Jovem Guarda; nem foram Os Mutantes, a bordo da Tropicália; nem a galera do BRock, que deu voz ao pessoal dos anos 80; e muito menos o saudoso Chorão, que revolucionou o cenário na década de 90. A música brasileira popular conhece o rock and roll praticamente desde a sua popularização, durante o fim da década de 1950, graças ao sucesso mundial de Elvis Presley.

Cauby Peixoto começou a carreira na década de 50

Cauby Peixoto foi um dos precursores do rock feito no Brasil (Foto/Divulgação)

Aproveitando a onda roqueira dos anos 50, um músico carioca chamado Alberto Borges de Barros, o popular líder do Betinho e Seu Conjunto, trouxe dos EUA uma guitarra Fender Stratocaster. Seduzido pelo fenômeno musical norte-americano, Betinho deu um tempo em seu trabalho como músico de jazz e partiu para o lado rocker da força.

Com um novo instrumento em mãos, em 1957, Betinho e Seu Conjunto gravaram a música Enrolando O Rock, o primeiro rock cantado em português do Brasil. Composta em parceria o compositor Heitor Carrilho, a faixa fez parte da trilha sonora do filme Absolutamente Certo, com direito à aparição do grupo, que resultou no o primeiro clipe de rock do Brasil.

Ainda em 1957, Cauby Peixoto gravou a canção Rock and Roll em Copacabana. Não podemos nos esquecer, no entanto, que em 1955, a cantora Nora Ney gravou uma versão da música Rock Around The Clock, de Bill Halley & His Coments, para a trilha sonora do filme Sementes da Violência.

2. A era dourada

A atualmente aposentada Rita Lee entrou na década de 1980 falando que “roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido”. Apesar de marginalmente poética, a teoria da Rainha Rita foi desmentida pela então nova geração do rock brasileiro.

A magia começou no Festival MPB Shell 1981, quando a Gang 90 & As Absurdetes roubaram a cena com a música Perdidos na Selva. Um ano depois, as bandas Blitz e Barão Vermelho lançaram aqueles que são considerados os primeiros discos de rock gravados por bandas surgidas naquela geração. A partir desses três lançamentos, pontua-se o surgimento do movimento BRock – ou rock brasileiro, como muita gente gosta de classificar.

Disco de estreia do Barão Vermelho ajudou o rock brasileiro a ser grande

O homônimo disco de estreia do Barão inaugurou uma nova era no rock nacional (Divulgação)

Ainda na primeira parte da década, a cena revelou nomes como João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, Os Paralamas do Sucesso, Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, Magazine, Lulu Santos, Brylho, Camisa de VênusRadio Taxi, entre outros.

Rock in Rio muda o curso da história

A realização da primeira edição do Rock In Rio (1985), a força das rádios FMs e o surgimento de danceterias que abriram espaço para shows, são fatores que ajudaram o rock a assumir a preferência da galera. Por suas vezes, os programas de auditório lideravam audiências na TV e, de olho na efervescência da cena, abriam espaços para artistas de rock. Desta forma, os roqueiros frequentavam até os programas destinados ao público infantil. Consequentemente, um sem-número de bandas começou a pipocar dos quatro cantos do país.

Do Rio Grande Sul emergiu os grupos TNT, Nenhum de Nós e Engenheiros do Hawaii. O Rio de Janeiro exportou Biquini Cavadão, Hanoi Hanoi, Uns e Outros e Sempre Livre. A escola roqueira de São Paulo nos deu bandas como Ira!, Zero, Titãs, RPM, entre tantas várias outras. Por fim, as bandas Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude colocaram a cena brasiliense em evidência.

Popularmente chamada de “década perdida”, a geração dos anos 80 quebrou paradigmas e mostrou que o roqueiro no Brasil precisava ser levado a sério. A partir dali, os pais e mães deixaram de implicar com os cabelos compridos e até passaram a presentear as crianças com guitarras de brinquedo.

3. “Procuramos independência”

Durante os anos 80, o rock nacional estava na moda. Os artistas contavam com os mimos das grandes gravadoras, frequentavam programas de Tv e tinham bastante espaço nas FMs. Porém, como não poderia ser diferente, nem todos conseguiram descansar nas costas das gigantes da indústria fonográfica.

Na luta pela sobrevivência, os artistas de música independente encontraram refúgio no Teatro Lira Paulistana, também conhecido como Lira Paulistana ou simplesmente Lira. Planejado inicialmente para ser apenas um teatro, o espaço tornou-se também um espaço para a música. Em pouco tempo, virou o ponto de encontro da Vanguarda Paulista, que foi que uma explosão simultânea de artistas de enorme criatividade, em um dos mais estimulantes movimentos culturais experimentados pela capital paulista.

Os Titãs chegaram a ter nove integrantes

No começo, os Titãs também bateram ponto no Lira (Divulgação)

Aquele caldeirão de cultura proporcionou o surgimento de uma cena musical que abrigou gente da MPB, da música experimental e dos gêneros ligados ao rock. O Lira deu espaço para bandas alternativas, como Língua de Trapo, Grupo Um e Premeditando o Breque, e também para grupos de rock, como Gang 90, Ira!, Ultraje a Rigor, Titãs e Violeta de Outono.

Em 17 de março de 1985, os grupos de hardcore punk paulistas Cólera e Ratos de Porão, fizeram o show de lançamento do álbum de estréia do CóleraTente Mudar o Amanhã. Esse show ficou registrado no álbum Ao Vivo no Lira Paulistana, lançado no mesmo ano pelo selo Ataque Frontal. Abaixo, uma das aparições punks no Lira:

Atualmente, o artista independente pode contar com o Palco MP3, a maior plataforma de divulgação musical do Brasil.

4. Um respiro chamado MTV

Se nos anos 80 o Rock in Rio definiu rumos na cena do rock nacional, a MTV Brasil agitou o cenário na década de 90. Ao longo de seus 13 anos dedicado à música, a maior emissora videoclíptica da história escreveu páginas imortais no cenário rocker. Além dos programas que moldaram e divertiram toda uma geração, a MTV Brasil prestou inúmeros serviços ao rock brasileiro. Com bastante competência e autoridade, o canal lançou, catapultou, fidelizou e ressuscitou várias carreiras artísticas.

Skank sempre colheu frutos da MTV

Skank é uma das bandas mais bem sucedidas da “geração MTV” (Divulgação)

O que seria do Capital Inicial sem o Acústico MTV? Se não fosse a garantia de divulgação massiva da emissora, que por consequência aumentava venda de discos e contratos para grandes shows, será que Skank e O Rappa teriam motivos para lançar tantos clipes épicos?

Ah, e não podemos esquecer da força que o canal deu para Raimundos, Pitty, CBJR, Fresno, Cachorro Grande, Chico Science e Nação Zumbi, Planete Hemp, NX Zero, CPM 22, e vários outros.

Se o rock feito no Brasil teve um último momento grandioso na grande mídia, a MTV foi a maior responsável por esse respiro.

5. Admirável futuro novo

É bem comum ouvir que depois que os sucessos dos “caras do Charlie Brown Jr. invadiram a cidade”, o rock brasileiro entrou em franca decadência. De fato, o estilo não tem tanto espaço na mídia tradicional. As TVs, rádios e até veículos digitais priorizam gêneros mais populares, caso da trinca funk, sertanejo e forró. Porém, aos trancos e barrancos, o rock brasileiro tá bem vivo.

Scalene é uma das forças jovens do rock brasileiro

Scalene é uma das bandas que ditam o futuro do rock nacional (Divulgação)

Após uma forte onda no início dos anos 2000 – quando o rock ainda era visto como prioridade nas gravadoras e, consequentemente, nas rádios -, a cena nacional mergulhou em uma série de reformulações. Diante da pouca força de inovação dos subgêneros surgidos, o mercado acabou empurrando os novos artistas para escanteio.

Mas já que no DNA roqueiro tem o elemento “resistência”, a turma soube criar um nicho fundamentado na autossustentação. Está de volta o lema “do it yourself”. As bandas passaram a produzir material audiovisual focando esforços em meios de distribuição via plataformas de streaming, alcançando e fidelizando público capaz de lotar shows Brasil afora.

Agora que você já sabe os marcos da história do rock no Brasil, que tal ouvir bandas que são lendas desse estilo? Confira nossa playlist com os memoráveis hits dos anos 80! Ah, e não se esqueça de compartilhar o link deste post por aí. Com sua ajuda, nós conseguimos fazer do rock um patrimônio imaterial da nossa cultura 😉

Foto de Gustavo Morais

Gustavo Morais

Jornalista, com especialização em Produção e Crítica Cultural. Pesquisador independente de música, colecionador de discos de vinil e mídias físicas. Toca guitarra, violão, baixo e teclado. Trabalha no Cifra Club desde novembro de 2006.

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