Fui visitar meu compadre que tava hospitalizado Malecho de tanto comer mondongo azedo e tripa sapecada Fiquei muito comovido Com as coisa que eu vi por lá Mas por ser índio resolvido Me prontifiquei a ajudar Fui visitar meu compadre Que tava hospitalizado Fiquei muito impressionado Com as coisas que eu vi por lá Vi muita gente sofrendo Uns chorando, outros gemendo Fiquei triste comovido E por ser índio resolvido Me prontifiquei a ajudar Perguntei pro seu doutor Me diga falando sério Como pode este gaudério Ajudar esse vivente Perguntou o que que eu fazia Só pra ter uma informação Canto verso bem rimado Toco gaita de teclado E a oito soco de botão Fui ginete domador Sou gaiteiro e cantador Mas ganho pouco pra me sustentar Trabalhei fiz o que pude Hoje só tenho resto de saúde E agora como eu posso lhe ajudar? O doutor foi me falando Para ajudar um semelhante É ser doador de transplante Esta é tua grande valia Mas se é fraco e carunchado Não pode ser doador Eu disse fique a vontade E o que achar de utilidade Doarei então seu doutor Me focou uma lanterna nos zóio Pra mode ser examinado Vi os defeito relatado Por um doutor competente As bulitas estão licadas Pra transplante não dá pé Vermelha de borracheira Só serve pra sinaleira Ou lanterna de cabaré E o doutor e examinando Foi perguntando o que eu sentia Tenho pouca coisa pra me queixar Eu só ando com os dois quarto frouxo Na minha cabeça tem uma cachoeira Que não cessa noite e dia As minhas cadeira seu doutor Ringe mais que moenga de engenho Numa seca de agosto Examinou meu pulmão Com a tal radiografia Para ver a anatomia E o desempenho da função Me diz que ouviu mais de mil grilos Numa zueira infernal Ronco, chiados e quichos Como um bando de pelinchos Pulando num taquaral Tem mais pra cá o coração O que cruza no cemitério É um problema muito sério De difícil solução As coronária entupida Não dá mais pra destrancar As artérias estão torta E a junta da veia aorta Não para de trepidar Ando aguentando seu doutor por que sou taura E já ando curtido pelos trompassos da vida Que por maus tratos de percantas esnobes E de chinas mal agradecidas Para transplante renal O meu rim foi avaliado E depois de bem testado Veio a sentença final Já não tem mais competência Não cumpre mais seu papel Tem mais pedras encravadas Do que as paredes somadas Das torres de São Miguel Me estaqueou de perna aberta Que nem forca de bodoque Pra fazer o tal de toque É aí que a coisa aperta Vi um dedo grosso safado Igual pescoço de socó Falei desculpe enfermeira Mas aqui nessa porteira É via de uma mão só E o doutor foi me explicando Relatando tudo o que eu sentia Tu já anda sucateado Que nada mais se aproveita Tua vida é curta e estreita Que nem borrego embretado Perdeu as forças dos tentos Nas tramelas das urinas Vai pisando na bombacha E mijando nas botinas Se pra transplante não deu Eu aceito sem retombo Um dia eu tento de novo E juro a Deus me cura Quero ser um doador Na obra da criação Quando eu ir pra terra fria Posso ainda ser garantia Dando vida ao nosso irmão