No lugar que eu fui criado Era uma fazenda incrível Meu pai era boiadeiro De um coração disponível Me ensinou lidar no campo No chão de Monte Aprazível Até meus 18 anos Eu fiz serviço impossível Nos domingos e feriados Eu ganhava separado Pra pegar boi alongado No laço eu era invencível No capoeirão da invernada Tinha um imenso Pantanal Era trazido arrastado O mais bravo animal Com o Sol levantava poeira Com a chuva lamaçal No palanque de arueira Bem no meio do curral Meu cavalo corta vento Rangido os doze tentos Mestiço ruim e birrento Enrodilhava no pau Veja só o que aconteceu Numa mata bem fechada Desci do alto do morro Preparando uma laçada Cercando o novilho arisco Que escapou da manada Tinha uma cisterna No lugar de uma morada Meu cavalo corta vento Quando ele pisou lá dentro Sente arrebentar os tentos Da barrigueira trançada Sai rolando com arreio Fui parar na ribanceira Cavalo caiu lá dentro E o boi saiu na carreira Cavalo quebrou o pescoço E uma pata traseira Eu ouvi pedindo a morte Relinchando de canseira Eu fiquei num desespero Porque perdi meu parceiro Deixei de ser boiadeiro E minha vida campeira O destino me arribou Tive que partir sozinho Puis o arreio no ombro Igual filme de mocinho Puxei o chapéu no rosto Passo a passo no caminho Eu tinha nervos de aço Tornei- me uma ave sem ninho Hoje eu vivo na cidade Lembrando da mocidade Remoendo essa cidade Que me fere como espinho