Sou um caboclo sonhador Meu senhor, viu? Não queira mudar meu verso Se é assim não tem conversa E meu regresso para o brejo Diminui a minha reza. Um coração tão sertanejo Vejam como anda plangente o meu olhar Mergulhado nos becos do meu passado Perdido na imensidão desse lugar Ao lembrar-me das bravuras de Nenem Perguntar-me a todo instante por Baía Mega e Quinha como vão? tá tudo bem? Meu canto é tanto quanto canta o sabiá Sou devoto de Padim Ciço Romão Sou tiete do nosso Rei do Cangaço E em meu regaço fulminado em pensamentos Em meu rebento sedento eu quero chegar Deixem que eu cante cantigas de ninar Abram alas para um novo cantador Deixem meu verso passar na avenida Num forrofiádo tão da bexiga de bom. Quebrei no dente Um taco da literatura Tô na história, tô e sei Que sou motivo pra falar Entrei de cara, cara E tô saindo fora Ta no tempo já é hora De poder me desfrutar Semente negra Eu sou raiz poderosa Aguada em verso e prosa Na cacimba de Belá Meu canto tem O chaco-chaco de uma cuia E tem, tem as manhas Que Mestre Louro plantou Pra colher um canto Assim que nem vem-vem E soar como um acorde de sanfona Festejar que nem "Passarim" no xerém Namorar com a batida da zabumba Tum-tum-tum bate-bate meu coração Por um forró Que nem os de passagem funda Tum-tum-tum bate-bate meu coração Da-lhe zabumba E Jacsom no pandeiro é ás Tum-tum-tum bate-bate meu coração Se essa morena não me quer Não quero mais