Por quantas noites eu me vi desencantar Enquanto os palcos desabavam sobre mim O meu amor então beijava o meu olhar Dizia: Vamos lá! Levanta e vai cantar! Eu me vestia e ela ia amamentar Nosso menino era plateia e camarim E dos seus seios parecia perguntar Meu pai, o que é que há? Me beija e vai cantar E eu sabia que tinha de ir Pra amenizar toda a dor da cidade E eu pousava nos pianos por aí Tal qual um sabiá pousava num flamboyant Por quantas vezes eu pedi a Deus de manhã Deixar eu cantar pro Brasil Pra ter no portão, o leite e o pão E o rabo do cão que diz não quando é sim Meu amor já na porta de casa Tendo ao colo o nosso Arlequim Me dava a impressão de um samba de Tom Jobim Até que um dia eu resolvi desencantar E desabei por sobre os palcos do país O meu amor ainda beija o meu olhar E eu digo: Vamos lá! Cantar pra quem chorar Eu peço a Deus para poder doar a luz Que a minha voz cumpra a missão de atenuar Toda a amargura dessa terra de Jesus E eu digo: Vera Cruz, canta pra não chorar! E pros que cantam nos seus cabarés Tenham orgulho desta profissão Pousem nos palcos dos pianos, violões E a voz é um colibri, nas cores das canções Por quantas vezes eu pedi a Deus de manhã Conserve-me a simplicidade Pra ter no portão o leite e o pão E o rabo do cão que diz não quando é sim Meu amor está na porta de casa E o sorriso do meu Arlequim É um céu de emoções e eu sou uma luz assim A brilhar, a brilhar, a brilhar Meu amor sempre à porta de casa E o sorriso do meu Arlequim Sou um samba-canção eterno de Tom Jobim A cantar, a cantar, a cantar