Escuta minha vaneira, muy candongueira e charrua Parida em noite de Lua, junto ao clarão da boieira Batizada nas ilheiras de uma gaita sem costeio Que andou potreando floreios nos bailongos da fronteira Vaneira é clarim de guerra, abagualada na estampa Que traduz o idioma pampa aos quatro cantos da terra Pois, quando a cordeona berra, corcoveando num compasso A changa vem pro meu braço e a polvadeira se encerra Hino de pátria baguala, mescla de sonhos e ânsias Alma dos galpões de estância que a tradição embuçala Tua voz nunca se cala, nem que esse mundo desande Pois teu sonido é o Rio Grande nos quatro cantos da sala A noite fica pequena, a gaita bufa e se encolhe A China faz corpo mole e o bugre arrasta a chilena Porque a vaneira envenena, enfeitiça, prende fogo Nesse audacioso jogo que a santidade condena Vaneira é China gaviona que só conta seus segredos Pra aqueles que tem nos dedos os apegos da cordeona Jamais o tempo se adona, tampouco, o destino muda A simplicidade cruda da vaneira macharrona Até o candeeiro escaramuça num balanço pacholento Até parece o lamento da chorona que soluça Teu tranco é vida que pulsa e atormenta o índio taita Pra ser parceiro da gaita quando a aurora mostra a fuça Vaneira é clamor de povo floreando em baile de ranchos Onde o gaiteiro carancho se espelha no seu retovo Então, assim, me comovo, agarro a China mais bela E grito de toda goela: Toque a vaneira de novo Isso é vaneira do Ulisses Medeiros Dançar lá no Plano Alto Darci Langue Becker no São Gabriel, rapaz E o Tabajara Cunha lá no Azevedo Sodré