Os dentes de chumbo, a dor cervical Temor consciente, a paz serviçal Um frasco de riso, um gole de cor Um tanto de vida, um pouco de amor Por ser a verve domada Eu não entendo nada A paz insolúvel O ódio cortês O preço do gás Das compras do mês Um afago, um açoite As marcas na tez Mil horas num dia Mil dias num mês O vão comunista O tolo burguês Aplicam sermões Mil dias num mês A vida é seca e rala Não entendo nada Um carro uma casa Um barco sem cais Mil metros de entulho Num rio voraz O câncer que O poliestireno Me traz A catarse Que o poliestireno Me traz O barco, o carro, a casa São tudo ou quase nada? A mesa de vidro A jarra, um cristal A imagem de Cristo A igreja, o vitral A roupa engomada O instinto animal A velha repulsa Capenga, imortal Eu sou o bem que estraçalha Não entendo nada Um traço no verso Da folha de trás Do caderno que espera O saber, que se esvai Há salas que cabem Trinta Imortais Com sorte abrigam Trinta chacais Sedentos por vidas De reis, generais Que não aprenderam Na escola ou com os pais A serem o que são Sem medo e sem paz O mestre que tolhe e retalha Não entende nada O colo não dado Sem berço E o choro O colo não dado O berço de ouro O dito, o feito A ferida, o fardo O gosto da fome incessante É amargo Por ser de carne e mais nada Não entendo