Sobrevividos a muitos sorrisos que houveram
Muitas vezes sem um porquê
Sobrevividos às nossas perguntas
Que são grossas, são tantas e frequentemente ridícolas
Sobrevividos e sobreviventes
Assim e agora e aqui
Sobrevividos aos nossos projetos
Água areia e pazinha e castelos assim

Perdidos ou não ainda em pé
Não sei quem, mas alguém sim
Sentirá assim
Perdidos ou não estamos em pé ainda
Somos ainda o quê, somos ainda quem
Somos ainda quem, somos ainda sei lá

Sobrevividos aos nossos pensamentos
A conselhos, bocejos, falsos sentidos únicos
Sobrevividos às vozes gritadas,
Como aos muitos silêncios, como aos murmúrios
Sobrevividos e sobreviventes
Mas quem? E sei lá
Sobrevividos aos sentidos de culpa
Existe quem pode e não escuta e, caralho, existe quem não pode

Perdidos ou não estamos em pé ainda
Não sei quem, mas alguém sim
Sentirá assim
Perdidos ou não estamos em pé ainda
Somos ainda o quê, somos ainda quem
Somos ainda quem, somos ainda sei lá

É um mar cheio de jangadas
É um mar cheio de salva-vidas
É um mar com alguma ilha

Sobrevividos a velhas e novas dores
Que esperamos as vacinas, no meio tempo quem sabe
Sobrevividos a todo este estrume
Quantos banheiros e perfumes e antigas máscaras
Sobrevividos e sobreviventes
Um pouco pra baixo, um pouco pra cima, um pouco pra baixo
Sobrevividos aos 60 e aos 70
E os 80 nunca vão acabar

Perdidos ou não estamos em pé ainda
Não sei quem, mas alguém sim
Sentirá assim
Perdidos ou não estamos em pé ainda
Somos ainda o quê, somos ainda quem
Somos ainda quem, somos ainda sei lá