Minha mãezinha, alguém me disse Que tu te foste, triste sem mim Já não me embala tua meiguice E não podias partir assim Eu acredito que tenhas ido Pedir a Deus, que possui a luz Que de mim faça, do teu querido Um dos seus anjos, outro Jesus Mas tanto tempo faz que partiste Que me fugiste sem me levar Que sofro e choro, saudoso e triste Sem esperanças de te encontrar Há quantos dias que te procuro Que te procuro chamando em vão! Tudo é silêncio tristonho e escuro Tudo é saudade no coração Outros meninos alegres vejo Numa alegria terna e louçã Que exclamam rindo dentro dum beijo Como eu te adoro, minha mamã! Sinto um anseio sublime e santo De nos meus braços, mãe, te beijar E abraço o espaço, beijo o meu pranto Somente a mágoa vem-me afagar Inquiro o vento: Quando verei Minha mãezinha boa e querida? E o vento triste diz-me: Não sei! Só noutra vida, só noutra vida! Pergunto à fonte, pergunto à ave Quando regressas dos Céus supremos E me respondem em voz suave Nós não sabemos! Nós não sabemos! Pergunto à flor que engalana a aurora Quando é que voltas desse país E ela retruca, consoladora Depois da morte serás feliz E digo ao sino na tarde calma Onde está ela, meu doce bem? Ele responde, grave, à minhalma Além na luz! Na luz do Além! O mar e a noite me crucificam Multiplicando meus pobres ais Cheios de angústias, ambos replicam Tua mãezinha não volta mais Somente a nuvem, quando eu imploro Diz-me que vens e diz que te vê E me conforta, do céu, se eu choro Eu vou chamá-la para você Sempre te espero, mas, ai! Não voltas Nem para dar-me consolação Ó mãe querida, que mágoas soltas Andam cortando meu coração Tanta saudade, e, no entretanto Vejo-te linda nos sonhos meus Ajoelhada, banhada em pranto E de mãos postas aos pés de Deus Sempre a meus olhos, estás bonita Qual uma rosa, como um jasmim! Porém conheço que estás aflita Com o pensamento junto de mim Então, entrego-me ao meu desejo Tremo de anseio, calo, sorrio Sentindo o anélito do teu beijo Mas abro os olhos no ar vazio! Vai-se-me o sonho Quanta amargura Que sinto esparsa pelo caminho! Que mágoa eterna! Que desventura Para quem segue triste e sozinho Volta depressa! Guardo-te flores Porque só vivo pensando em ti Celebraremos nossos amores Junto da fonte que canta e ri Já não suporto tantos cansaços! Se não voltares, pede a Jesus Que te conceda pôr-me em teus braços Foge comigo para outra luz!