Não foi o vento que apagou o verbo Foi a mão banhada em ouro e decreto Rasgaram o silêncio antes da aurora Mas a brasa dormia debaixo do teto Na dobra do tempo, um nome murmura Sem língua, sem rosto, sem altar Não se grava o que brota da terra Só se escuta com os ossos do olhar O trono silenciou a linhagem Chamou de heresia o que nasceu em ventre Mas o pó guardou o que foi riscado Escondido entre dentes e correntes Queimaram o fragmento, mas restou vibração A verdade escorre por frestas da tradição O verbo não habita livros selados Mas vibra no som dos que não foram calados Sob pedra rachada e templo vazio Há vozes que dormem de olhos abertos São sementes que recusam vitrine E crescem em desertos incertos O nome oculto nunca se perdeu Foi sussurrado em corpos de barro Esculpido no pulso dos não eleitos Sangra quieto, mas nunca raro Eles ergueram doutrina com cinzel de medo Mas não fecharam a fenda da canção Ela escapa em tambores que não obedecem E retorna no passo de quem tem chão Queimaram o fragmento, deixaram o sinal A linhagem ecoa sob véus de sal Quem lê com a pele decifra o mistério O verbo que arde ainda é etéreo