Ergueram castelos com voz de decreto E chamaram de fé o que era concreto Coroaram mentiras com manto bordado Mas o tempo só reina onde foi enraizado As mãos estavam limpas demais Pra carregar qualquer legado E os tronos brilhavam por fora Mas tremiam por dentro, rachado O rei não tem rosto, só eco e coroas quebradas O trono é de areia, afunda em cada palavra Não há pedra que sustente o que nasce torto E o império ruge mas já nasceu morto Chamaram justiça de espada dourada Mas só cortaram quem vinha descalço Diziam: O céu é só pros que obedecem Enquanto queimavam a alma do abraço Fincaram cruzes no chão errado E esqueceram que o chão tem memória Toda glória roubada do pó Vai ser tragada de volta pra história O rei não tem rosto, só eco e coroas quebradas O trono é de areia, afunda em cada palavra Não há pedra que sustente o que nasce torto E o império ruge, mas já nasceu morto Eles acham que o mundo se curva pro ouro Mas o vento só canta no campo do povo As estátuas caem, sempre que o chão treme E cada mentira coroa o fim de quem mente O rei não tem rosto, só medo e muralhas gastas O trono é de areia, e já ruiu sob as máscaras Não há trono no barro, só voz e caminho E é lá que renasce quem caiu sozinho