Meia dúzia de rosas sangram no buquê elétrico A madrugada rasga o teto da minha lucidez Meus pensamentos colidem em órbita nervosa E o coração implode pedindo lucidez O silêncio sibila profecias no escuro Teus olhos já fazem as malas do amanhã Finjo não ouvir o eco do teu sumir Enquanto o tempo afia dentes de manhã Tua mão roça a minha como sentença lenta Um adeus disfarçado de ternura ritual E eu leio nas fissuras da memória Que todo fim é um Deus marginal Eu me desfaço em ruínas por amor consciente Sabendo que o prazo mordia o horizonte Se eu abrir a porta e te libertar do peito Que seja verdade, não ponte quebrada, não miragem, não fonte Deixo ir o vulto da nossa febre Mas cada passo teu reverbera em mim Detesto despedidas que cheiram a eternidade Mas sorrio quando a verdade chega ao fim Nos dias tensos despi minha armadura Não por fraqueza, por devoção febril Teu nome foi minha geografia secreta Meu altar desmoronando em abril E mesmo que a lembrança fira como sal Não nego o incêndio que nos moldou Ver-te partir é aceitar o eco Do que nunca realmente cessou Rosas giram, relógios vomitam luz Tua ausência reverbera em parafuso Meu corpo aprende a ser continente De um amor que sangra, mas é difuso Saliva de estrela, prece nervosa Cada batida um parto sideral Te amar foi guerra, foi primavera Foi naufrágio transcendental Eu fiz de tudo, diluí-me em constelações Te amei sem exigir explicação Te deixo ir, mas carrego cicatrizes Que perfumam minha solidão E se o tempo nos cruzar em outro plano Talvez sejamos menos furacão Até lá, sigo, rosa em combustão Um coração que aprendeu a deixar ir Sem implorar redenção Meia dúzia de rosas E um silêncio que ainda respira você