Trovador Negro

Pedro Ortaça

Trovador Negro


(Negro de sorriso claro, como sinuelo de pampa, 
Que sintetizas na estampa longínquas reminiscências 
Negro que lembras dolências de alegrias e tristezas 
Que andaram nas correntezas dos rios de muitas querências) 

Essa cordeona que abraças com ciumenta intimidade 
Traduz na sonoridade, quando teus dedos passeiam 
Madrugadas que clareiam, campos pelechando em flor 
Chinocas pedindo amor e potros que corcoveiam

E quando a cordeona espichas aberta como prá um pialo
E o verso sai de a cavalo, sobre a cadência da nota 
Tua mirada remota se perde coxilha acima 
Como quem busca uma rima sem saber donde ela brota 

(Tu sim, és poeta e o mundo, prá ti se torna pequeno 
E nem mil poetas moreno, expoentes de Academia 
Campereando noite e dia, o vocabulário gasto 
Podem dar cheiro de pasto como tu dás à poesia) 

Negro de sorriso aberto como clarão de alvorada 
Abre essa gaita aporreada, e canta a mais não poder 
Canta negro até morrer, com força de mil gargantas 
Pois cantando como cantas ninguém te iguala em saber.
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