Aprendi ser dissimulado ao longo desses anos
Em que fui tão maltratado, mal falado, mal amado
Chutado de lado a lado, derrotado, humilhado
Sofri dor, fui sofredor calado

Ao deitar minha cabeça e ficar só comigo mesmo
Os fantasmas de um passado a esmo
Vagam feito vagalumes de fogo
Me torram, me tornam num torresmo
Fico seco e quebradiço, frágil como azulejo

É por isso que eu escondo a outra face por trás de um capuz
É assim que eu disfarço minhas sombras de luz
Me desfaço do passado, das chagas tiro o pus
E escrevo meus lamentos pra cantar num blues

É por isso
É por essas e outras

Aprendi ser dissimulado, pois tem atrasa lado
Que acha que sou de ferro só porque fiquei calado
Mas mal sabem que no inferno interno quente
Até o ferro se derrete, vira caldo
E o caldo engrossa eventualmente

Há quem goste de brincar com fogo e dinamites
Ao som do pavio aceso meu silêncio é um grito
O ranger da ponte bamba sobre estalagmites
O pavio é longo, mas não é infinito

É por isso que eu escondo a outra face por trás de um capuz
É assim que eu disfarço minhas sombras de luz
Me desfaço do passado, das chagas tiro o pus
E escrevo meus lamentos pra cantar num blues

É por isso
É por essas e outras
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