A viola é meu campanário Minha prece, meu ritual Minha ternura morena Para o meu cerimonial Encharcada de sereno Com meu batismo regional Que faz da minha linguagem Uma clave universal Se eu gastar tudo o que tenho Neste andejo caminhar Às vezes me levantando Pra lhe ceder o lugar Não vou perder duma vaza O que custei pra ganhar Sou missioneiro por gosto E falo sem gaguejar Meu cartar não tem fronteiras Carrego desde guri Mescla de guapo, paisano Com alma de guarani São-borjense, pura cepa Da costa do butuy Que cresceu sem muita pressa Pra chegar até aqui O caldeamento que trago De ventos e temporais Me fez crescer com crescem Os jujos nos pajonais Por isso que sou gaúcho Sem me esquecer jamais Que pátria se faz cantando De a cavalo nos ideais Gosto da vida que tenho Gosto de ser como sou Se resvalei por acaso Quem é que não resvalou? Campeando a volta do mundo Enforquilhado me vou Cruzando pelos caminhos Que nunca ninguém cruzou Sou demais de agradecido Mas preciso continuar Outros caminhos me chamam Não posso me demorar Mas, se valeu o meu canto Me ajudem a cantar Sou promessa verdadeira Que não passa sem voltar