A raiva foi enjaulada em rotinas educadas
Alimentaram algo raivoso por trás das cortinas
Empilhado nos cantos de uma graça ensaiada
Cada resposta branda que eu impus foi colocada à força

Aprendi a reprimir minha ira pelos limites
Trocar cada surto por um chão mais doce
Polir minha voz pra nada aparecer
Agir como se a fúria não tivesse brilho

Você elogiou a maneira como eu me controlei
Ao longo dos anos fiz o que me mandaram
Me exibiu como um caso redimido
Algo feral seguiu rugindo em sigilo

Toda vez que eu suavizava a raiva
A pressão crescia dentro da jaula
Enfiada em rotinas dóceis e finas
Veneno circulando pelas costuras

Fúria sagrada, eu deixo você reinar
Faça um sermão a partir da minha dor
Não vou ser o santo deles
Eu sou aquilo que eles não conseguem controlar

Se essa raiva é tudo que eu tenho
Não vou chamar de errado ou pequeno
Cada parte que você tentou enterrar
Vou deixar que tome tudo

Você transformou minhas dúvidas em arte educada
As pendurou como troféus na sua parede
Chamou minha contenção de marca nobre
Sorriu quando eu me fiz ficar pequeno

Você jurou que a raiva me tornava menor
Então eu a cobri de vergonha
Sob cada carinho educado
A raiva me impeliu a permanecer

Toda vez que eu me ajoelhava para agradar
Perseguindo algum ideal aprovado
Algo impiedoso arrebentava a coleira
Rosnando que a minha raiva é real

Santa fúria, tome conta deste lugar
Transforme essa raiva em hinos
Não vou fingir um rosto gentil
Eu não vou deixar você acorrentar estes membros

Se essa raiva é a minha essência
Eu não vou marcá-la como doença
Deixe que se levante e acerte as contas
Deixe que se mova do jeito que quiser

(Pare)
Pare de encarar a raiva como uma simples falha
De rotulá-la como pecado infantil
De usar minha paciência como seu cofre
De esconder a revolta trancada lá dentro

Você desfila meus dias mais tranquilos
Publica isso como se fosse uma cura perfeita
Diz à multidão que eu mudei de caminho
Vende meu silêncio como algo seguro

Todos os seus métodos, dourados e limpos
Não conseguem apagar este núcleo pulsante
Eu não sou a sua cena gentil
Sou a fúria que exige mais

Eu guardei minha raiva como se fosse um pecado
A escondi fundo onde ninguém pudesse ver
Tentei trocá-la por um sorriso
Perdi as partes mais afiadas de mim

Quando o mundo parecia frio e vazio
A raiva estava lá e não desaparecia
Ela lembrava cada olhar
Cada promessa que foi traída

Pare de exigir que eu me cure
Eu sou a fúria feita de aço
Chega de máscaras para o seu espetáculo
Cada julgamento a faz crescer
Me chame de quebrado, me chame de cruel
Cada rótulo alimenta esse combustível
(Sim)
Você quer vazio, você quer fraqueza
Eu trago fúria sem vergonha

Santa fúria, tome conta deste lugar
Transforme essa raiva em hinos
Não vou fingir um rosto gentil
Eu não vou deixar você acorrentar estes membros

Se essa raiva é a minha essência
Eu não vou marcá-la como doença
Deixe que se levante e acerte as contas
Deixe que se mova do jeito que quiser

Chega de jogos falsos de apaziguamento
Chega de sorrisos para te acalmar
Se você só me amava manso
Pode me deixar com a minha raiva

Eu paro de implorar para ser gentil
Paro de aparar cada ponta
A raiva se senta ao meu lado agora
Não como monstro, não como teste

Ela carregou o que eles largaram
Ela viu o que os outros fugiram de ver
Eu fico aqui com tudo isso
E, por fim, caminhamos como um só