Cruzei a fonteira num opala 67
Com uma mochila e alguns kit
Com a banca, tu sabe, não se mete
A não ser que seja pra fazer uns hit

Na estrada surge um camarada
Com a roupa larga e uns boot
Me pergunta, qual que é da parada
E respondo, que é só pra dar uns chute

Mais afrente, no posto cruza uma mina
Com um beck, e no bolso umas rima
Pergunto se topa um feat
E ela responde, pra ti tô sem clima

Numa pousada aparece um casal depressivo
Pergunto, qual foi da solidão?
Ele responde, foi por nosso filho
Fico em choque com a situação

Na entrada da cidade, vejo a multidão
No asfalto escorre a mancha de sangue
No meio de tantos carros, avisto um muleke fazendo rap

Sem oitão, sem perdão
Só dor, só rejeição
A pureza do pensamento
Me fez enxergar
A vida de uma forma
Que tudo se transforma

Voltando pra casa
Vejo o muleke
Com um mic na mão
Reflito, e vejo que cumpri minha missão

O casal voltou pra casa
Com duas bagagens
Dor solidão
Perderam um filho pro mundão
Mas a vida continua né irmão?

A mina da rima, gravou um álbum
E adivinha, nossa faixa tá no quadro

O camarada do boot, seguiu o sonho
Hoje abriu um trampo no ramo
Olho e me orgulho de ter feito parte dessa história
Pois, conheci no dia de luta, e hoje vejo o dia de glória

A vida é cheia dessas, peças
Solucionamos e às vezes elas voltam
Sigo nessas, alças, alçando voo em qualquer lugar a gente volta