Setecentos e vinte e três
Hoje começa a ironia
De ser pássaro, sem voz, nesta viagem

Olha novamente para esse número à cegas
Decorou sua mala e embora não conheça o mar

Talvez suas pernas não tremam quando pular
Talvez quando você a viu, talvez você não a perdeu

Setecentos e vinte e dois
Me olha de longe
Quase nos reconhecemos
Você e eu
No meio deste incêndio
Nós nos abraçamos, sem terra, nem chão
Nem medo

Nos mapas da pele, aqueles que marcam as feridas
Que desgastam seus pés nessa dança

Puta realidade da vergonha alheia
Este mar de fronteiras
Tem voz, mas vai embora

Talvez, segurando a mão dela, eles escutarão
Talvez quando você a viu, talvez você não a perdeu

Setecentos e vinte e dois
Me olha de longe
Quase nos reconhecemos
Você e eu
No meio deste incêndio
Nós nos abraçamos, sem terra, nem chão

Não se parte um coração
Não importa para quem oramos
Se, finalmente, nos reconhecemos
Você e eu
No meio deste incêndio
Nós nos abraçamos, sem terra, nem chão
Nem medo, nem medo