E eu morro a cada dia
Quando cada coisa morre
Outrora Deus me socorria
E agora ainda socorre
Vai um pássaro, coitadinho
De hirtas e opacas asas
Vai com ele um bocadinho
Da minha alegria tão rasa
Vão-se o amigo, o cão, o gato, o boi
Tudo vai nesta infalível jornada
Só fica a angústia do que foi
Na minha memória cansada
Até um jovem filho se vai
Sem mesmo saber pra onde
Na vã liberdade que atrai
E mil armadilhas esconde
Nenhuma alegria perdura
E todo gozo é passageiro
Só de tristeza há fartura
Todo dia, o ano inteiro
Quando eu me for (e será breve!)
Levarei comigo esta carga
Não quero que alguém herde
Tanta lembrança amarga
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