Hoje eu olho para o espelho e vejo além da pele
Cada marca que eu carrego conta um milagre
Eu não sabia na época, mas estava protegido
Em cada queda, uma mão divina comigo

Eu tinha seis anos, sonho e me acordou
Casa escura, coração pequeno, medo me cercou
Mas minha avó acendeu uma vela no canto da sala
E cantou baixinho algo que a dor faz calar

Eu não sabia o nome, mas senti o abraço
Um cheiro de alfazema preenchendo o espaço
Anos depois eu entendi o que aconteceu
Era Oxalá me cobrindo antes que o medo crescesse

Em cada cicatriz um Orixá estava lá
Nos momentos que eu chorei sem ninguém pra escutar
Quando eu pensei que 'tava só, que o mundo desabou
Tinha uma força invisível que nunca me largou

Em cada cicatriz, memória que virou Axé
Do menino que sofria a homem cheio de fé
Agora eu olho para trás e vejo a conexão
Cada ferida foi um portal de proteção

Quinze anos, primeiro amor, que me destruiu
Sentado no meio-fio esperando que alguém me ouvisse
Chuva caindo forte, mas eu nem senti o frio
Só queria que a dor sumisse, que secasse o rio

E do nada a tempestade ficou mais intensa
O vento levou meu choro, levou minha vergonha imensa
Eu respirei fundo e senti algo mudar
Hoje eu sei que foi Iansã me ensinando a recomeçar

Em cada cicatriz um Orixá estava lá
Nos momentos que eu chorei sem ninguém pra escutar
Quando eu pensei que 'tava só, que o mundo desabou
Tinha uma força invisível que nunca me largou

Em cada cicatriz, memória que virou Axé
Do menino que sofria a homem cheio de fé
Agora eu olho para trás e vejo a conexão
Cada ferida foi um portal de proteção

Vinte e cinco, desempregado, conta no vermelho
Pensando em desistir, olhando pro espelho
Mãe doente, pai cansado, eu sem ter o que fazer
E uma voz dentro de mim disse: Levanta e vai vencer

No dia seguinte, porta abriu do nada
Uma oportunidade que parecia fechada
Eu jurei que foi sorte, que foi coincidência
Mas era Ogum na frente abrindo a minha existência

Uô, quantas vezes eu xinguei o céu
Achando que 'tava abandonado, sozinho, sem véu
Mas quando eu junto os pontos, quando eu vejo o mapa
Cada dor, cada queda, era uma etapa

Não foi acaso, não foi destino cruel
Foi a mão dos Orixás tecendo o meu papel
Essas cicatrizes que eu tentava esconder
São as provas vivas de que eles vieram me socorrer

Em cada cicatriz um Orixá estava lá
Nos momentos que eu chorei sem ninguém pra escutar
Quando eu pensei que 'tava só, que o mundo desabou
Tinha uma força invisível que nunca me largou

Em cada cicatriz, memória que virou Axé
Do menino que sofria a homem cheio de fé
Agora eu olho para trás e vejo a conexão
Cada ferida foi um portal de proteção

Hoje eu agradeço cada lágrima que caiu
Cada noite sem dormir, cada dor que me feriu
Porque foi naquele chão que eu aprendi a levantar
E descobri que nunca tive que caminhar

Sem os Orixás
Pra me guiar
Gratidão
Por cada cicatriz
Axé