Filho sem nome
Tão grande é a fome
Pai no xadrez
Mãe tem mais três pra sustentar
Vem pra cidade
Indigente, pingente
Semente de um mal
Não pode evitar
Menino é engraxate
Toca o carrinho de feira
Se vira, arruma um biscate
Bate alguma carteira
Ô moça, compra chiclete
E a moça fica cabreira
Medo, sei lá, da gilete
Pivete não é brincadeira
Pra quem subir a ladeira
O morro tem o perdão
Mesmo que faça besteira
Inda que seja ladrão
Pra quem nasceu na rabeira
Não tem mesmo solução
Vai ser assim, vida inteira
Dura, a batalha do pão
Olha o torrado
E a noite é criança
Que come criança
Que passa correndo do camburão
Nossa ciência
No mundo da Lua
Deixando na rua
Sua missão
Nos quatro cantos do mundo
Nos quatro quartos da hora
Nos quartos do submundo
Repete sempre essa história
Filantropia promove
Um belo conto de fada
Mas quando a prova dos nove
Noves fora, nada
Pra quem sobrou na rabada
Vai ser assim, sempre igual
Primeiro o pai, que foi filho
Filho, etc e tal
Pra quem varou madrugada
Cobrindo o corpo um jornal
Desgraça pouca é piada
Pouca loucura é banal
Mas pivete cuidado
Vê se não marca bobeira
Se bate no juizado
Vai engajar na carreira
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