Enquanto nos salões auri-doirados
Os ricaços palestram satisfeitos
Eu vou, pelos balcões azinhavrados
Copázios aos milhões chamando aos peitos!
Enquanto dos banquetes na fartura
Bebem taças de esplendidos licores
Eu mastigo uma vil bolacha dura
Que nem, se quer, da pança aplaca as dores
Enquanto nas alcovas perfumadas
Falam de amor os noivos venturosos
Eu, nos bordéis, atiro bofetadas
Às prostitutas vis e aos criminosos
Enquanto o dândy frisa o seu bigode
E ajeita o frack em bela posição
Eu esfarelo a barba como um bode
E as camisas concerto com cordão
E se acaso eu pensasse em ser correto
Sem ter dinheiro e sem ser empregado
Meus olhos furariam com espeto
Ou tinham-me na praça fuzilado
Portanto, deixarei que, neste taco
De mundo, o rico ou pobre vá viver
De qualquer forma não darei cavaco!
Diabo leve a quem quiser morrer!
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