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Conheça tudo sobre o alaúde, instrumento de origem árabe

Já ouviu falar no alaúde? Hoje vamos te contar tudo a respeito desse incrível instrumento musical!

Você sabe o que é um alaúde? Apesar de suas origens remontarem à antiguidade, ele continua a encantar amantes de música clássica e aficionados por instrumentos antigos até hoje. Assim, seu som ecoa através dos séculos, e o alaúde acabou ganhando um espaço especial no imaginário popular.

O que é alaúde
O alaúde é da família dos instrumentos cordofones (Foto: Reprodução)

Neste artigo, mergulharemos nas origens, características e sonoridade do alaúde, além de apresentar uma lista de músicos que representam esse instrumento musical fascinante.

Dessa forma, vamos revelar os segredos que o tornam um ícone duradouro da música ao longo dos séculos. Isso porque, do Oriente Médio à Europa, o alaúde é um símbolo de tradição musical.

Qual é a origem do alaúde?

É difícil precisar a origem do alaúde, pois estamos falando de uma história milenar, se considerar os diferentes cordofones originados na antiguidade.

Entretanto, a similaridade do alaúde com o oud (instrumento de origem árabe) sugere que o alaúde europeu foi uma consequência de adaptações ao instrumento árabe.

As semelhanças são, principalmente, em relação ao corpo do instrumento. Ambos apresentam o corpo abaulado, em “formato de pera”.

Além disso, o oud já tem algo comum nos alaúdes, que é o uso de cordas duplas. Contudo, ele é tocado com um plectro (palheta).

A seguir, exploraremos mais o alaúde que começou a se popularizar por volta do século XV. Mas o instrumento já existia com outras características desde a Idade Média.

Para que serve o alaúde?

Os instrumentos da família do alaúde (incluindo alaúde renascentista, arquialaúde, teorba e demais) foram utilizados em diferentes funções.

Tal qual o violão nos dias de hoje, o alaúde e seus “parentes” foram adotados como instrumentos de acompanhamento nas músicas. Aliás, também foi muito usado para acompanhar peças instrumentais dançantes.

Além disso, esses instrumentos eram muito utilizados no que é conhecido como baixo contínuo. Essa era a parte de um grande grupo instrumental responsável por realizar a parte da harmonia e acompanhar os instrumentos melódicos (ou cantores).

Nesse sentido, a teorba, o alaúde barroco e o arquialaúde foram instrumentos importantes para essa função. 

Ainda que excelentes para improvisação, esses instrumentos também foram muito abordados enquanto solistas.

Os compositores, que geralmente eram os próprios intérpretes, exploraram vários estilos de danças e arranjos (de músicas próprias ou de terceiros), além de música polifônica de grande complexidade musical e técnica. 

Quantas cordas tem o alaúde? 

A quantidade de cordas de um alaúde varia. Um traço em comum nestes instrumentos é o uso das já citadas cordas duplas, as chamadas “ordens“. 

As ordens mais agudas eram afinadas em uníssono, enquanto as ordens graves em oitavas, o que acabava reforçando a ressonância do instrumento. 

Cabe lembrar que os trastes eram móveis, e não fixos, como acontece no violão, por exemplo. Isso facilitava a afinação de acordo com os diferentes temperamentos utilizados. 


Características e tipos de alaúde

O alaúde é um instrumento que sofreu uma série de transformações ao longo do tempo. Além disso, vale ressaltar que vários tipos de alaúde coexistiram ao mesmo tempo, formando uma família de instrumentos que tinham, cada um, um uso específico.

Confira:

Alaúde renascentista

O alaúde utilizado durante os séculos XV e XVI teve uma maior padronização Europa afora. Geralmente, possuía 6 ordens, onde a primeira era uma corda simples, mas também eram comuns os alaúdes com 7 ordens.

A afinação do alaúde é bem similar à afinação do violão moderno, com intervalos de quartas e uma terça. A diferença é que, no alaúde, a terça se encontra entre as cordas 3 e 4.

Ilustração da afinação do alaúde renascentista no pentagrama

Arquialaúde (alaúde barroco italiano)

Na Itália, ainda no século XVI, era comum a adição de cordas simples graves ao alaúde renascentista.

No século XVII, o alaúde manteve sua antiga afinação e teve adicionada uma oitava inteira de cordas mais graves, afinadas na sequência de uma escala maior, totalizando 13 ordens. Esse instrumento permaneceu popular até o século XVIII.

Ilustração da afinação do arquialaúde no pentagrama

Teorba (chitarrone)

Além do arquialaúde, a teorba foi outro instrumento muito popular na Itália (e na França também) durante os séculos XVII e XVIII.

Seu som é marcado por maiores ressonância e projeção. Isso se deve ao fato de utilizar cordas simples no lugar das cordas duplas e também da afinação reentrante (as primeiras duas cordas são, na verdade, mais graves que a terceira e a quarta cordas).

Além disso, a teorba possui 14 cordas, uma a mais que o arquialaúde.

Ilustração da afinação da teorba no pentagrama

Alaúde barroco alemã

Na Alemanha, em meados do século XVII, houve uma adaptação bem particular em relação ao que acontecia em outros países.

Além do total de 13 ordens, como o arquialaúde, houve a adição de outra terça, formando um acorde de Ré Menor com as cordas soltas. Este instrumento se tornou popularmente conhecido simplesmente como alaúde barroco.

Ilustração da afinação do alaúde barroco alemão no pentagrama

Músicos que tocavam alaúde

A seguir, listamos alguns dos principais alaudistas da história, para você conhecer e se inspirar:

John Dowland (1563–1626)

Talvez o músico mais importante do período elisabetano, John Dowland ficou conhecido na Inglaterra e na Europa continental por compor canções melancólicas.

Muitas vezes, tais músicas eram publicadas em versões para várias vozes ou para voz e alaúde. Além disso, o próprio Dowland podia arranjar essas canções para solar no instrumento.

Além disso, ele compôs danças e fantasias de caráter contrapontístico.

Francesco da Milano (1497 – 1543)

Alaudista nascido em Monza, na Itália, Francesco da Milano também ficou conhecido pela alcunha de Il Divino e era tido como o grande alaudista de seu tempo.

Durante a maior parte de sua vida, teve vínculos empregatícios com as cortes papais, chegando a ser professor do Papa Leão X (responsável por excomungar Martinho Lutero).

Sylvius Leopold Weiss (1686-1750)

Compositor e alaudista alemão, Sylvius Leopold Weiss é tido como um dos maiores, se não o maior, alaudista de seu tempo.

Serviu e viveu em diversas cidades da Alemanha e excursionou pela Europa continental e pela Inglaterra. Deixou mais de 600 obras compostas no alaúde barroco.

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

Bach, muito provavelmente, não tocava o alaúde, mas era um grande admirador de sua sonoridade.

É sabido que havia dois “cravo-alaúdes” (instrumentos de teclas construídos para emular o som do alaúde) em sua coleção de instrumentos.

Provavelmente, foi para esse instrumento que ele compôs as músicas que hoje são tocadas no alaúde.

Como tocar alaúde?

Os alaudistas geralmente tocavam com as unhas cortadas. Durante a Idade Média, era comum o uso de um plectro (palheta) para tocar, mas isso foi sendo cada vez menos usual, em favor de uma abordagem mais dedilhada.

A técnica é muito similar à do violão moderno. Contudo, é preciso desenvolvê-la para pinçar as cordas duplas simultaneamente, caso você utilize unhas longas.

Um fato curioso é que o alaúde, assim como outros cordofones da época, era tocado com o sistema de tablaturas como notação musical. Nesse sentido, existiam dois tipos de tablaturas: a francesa e a italiana.

Tablatura francesa

Esse sistema utilizava letras no lugar dos números, sendo que a letra a representava as cordas soltas, b a primeira casa e assim sucessivamente. Lembrando que não existia a letra j no alfabeto hebraico.

Tablatura francesa para alaúde
Tablatura francesa de Fantasie, de John Dowland, publicada na coleção Variety of Lute Lessons (1610)

Tablatura italiana

Já a tablatura italiana, utilizava números, assim como as tablaturas atuais. Entretanto, a corda mais grave ficava na parte de cima da tablatura.

Tablatura italiana para alaúde
Tablatura italiana de Aria di Fiorenza, de Johann Kapsberger, presente no livro Intavolatura di Chitarone (1604)

O que achou de conhecer a história do alaúde, sua família e seu repertório? Incrível como a sonoridade desse instrumento resiste ao tempo e consegue nos encantar até hoje, não é?

Se você curtiu, compartilhe este artigo com seus amigos e amigas apaixonados por música, para que vocês possam trocar conhecimentos juntos!

Foto de Marco Teruel

Marco Teruel

Marco Teruel é músico e violonista, com mestrado pela USC Thornton School of Music (EUA) e doutorado em música pela UFMG. Seus interesses musicais incluem o repertório do violão clássico, a música dos séculos XVI e XVII, a música brasileira e o heavy metal.

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