Enjoado da vida e de todas suas falsidades
O calor de carne humana me repele
Meu toque tão gelado quanto a lâmina de um bisturi
Silenciosamente, no necrotério
Hesitante, em direção ao êxtase
Então me coloque na sua maca esterilizada
E por favor, deixe eu me afogar
Em sua carne pálida, tão pesada
Em segredo, pós autópsia
Eu permaneço revelado, nu e tremendo
Para olhos mortos enxergarem

Necrotica
Abatido por seu suco rançoso
Necrotica
Purificado em sua eclusa mefítica

Abraçado pela morte
Outra pantomima
Mas em meu reino de sombras
Nenhuma luz seria permitida brilhar
Silenciosamente, no necrotério
Hesitante, em direção ao êxtase
Este encontro invisível

Necrotica
Abatido por seu suco rançoso
Necrotica
Purificado em sua eclusa mefítica
Necrotica
Sobre a maca eu deito prostrado
Necrotica
Entorpecidos e mortos nós consumamos

Seu tórax aberto
Eu fico sem fôlego, mas sem medo
Eu encontrei meu lugar de descanso
Neste abraço apodrecido

Sem olhares indiscretos para desprezar
Este amor nascido da solidão
Nosso toque queima como o gelo
Em nosso paraíso pútrido

Ter amado e ter perdido
É um conto tão antigo quanto verdadeiro
Ter amado, mas a que custo?
Quando tudo que sobrar for quimo e gosma
Inexoravelmente, então veio a lividez
Nosso amor enfim atrofiou
Assim como toda anatomia está destinada

Necrotica
Abatido por seu suco rançoso
Necrotica
Purificado em sua eclusa mefítica
Necrotica
Sobre a maca eu deito prostrado
Necrotica
Entorpecidos e mortos, inconsolável