Quem é o teu fornecedor, me diz, te encontra em qual quebrada?
Como chegou a esse acorde, esse verso, essa métrica, a rima inesperada?
Qual o beco esguio que trafegas, que traficas, te transformas?
Onde tu cheiras tantas notas?
Quem é o oculto provedor, esse infeliz, furtivo pelas madrugadas?
Que antes que o mundo acorde vem e larga, depois some nas paradas?
De qual poeta tu copias tantas linhas, tantas formas?
De onde, esse bagulho tu importas?
Com essa letra tão esguia
E a nota, a mais torta
Harmonia, a mais estranha
Uma canção tamanha
Que revolve as entranhas
E vicia
Se um dia, quiçá um dia, eu cruzar com esse árabe nas bocas
Vou pedir uma canção meia guinga, meia chico, meia vila, meia barroca
Das outras silenciarem, soçobrarem sem piedade
Claro que de minha autoria
Com a letra mais esguia
E a nota, a mais torta
Harmonia, a mais estranha
Uma canção tamanha
Que revolve as entranhas
E vicia
Que insiste e se assovia
De doer nos corações
Que invade, que excede
Dizem se chamar Ahmed
O obscuro traficante das canções
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