Enraizado vivo no meu canto, feito uma planta, grudado no chão
Chuva caindo vai beijando a terra, eu misturado junto à plantação
Se tem fartura aqui na minha roça, eu agradeço sempre em oração
Quando a colheita dá uma fraquejada, do mesmo jeito eu agradeço irmão
Aprendi cedo plantar esperança, fui semeando pra viver então
Vendo sementes no ventre da terra que geminando lá no pé da serra
Espalha o verde pelo meu sertão

Ando descalço pelo chão molhado, piso no barro lá do estradão
Pego o atalho margeando a mata, para beber água no ribeirão
Assoviando subo pelo pasto, com tudo em paz, tudo em comunhão
Minha vaquinha lambe o seu bezerro, pasta tranqüilo, o meu alazão
Cruzo a cerca de arame farpado, dou uma olhada lá no mangueirão
Vejo a porcada brincar no lameiro, ficando assim durante o dia inteiro
Pra refrescar do calor do verão

Saio sorrindo pensando comigo, enquanto olho pela imensidão
É realmente aqui o paraíso, pois sinto Deus onde eu toco a mão
Na primavera ele pinta as flores, acende a lua pra fazer clarão
Quando a viola brinca nos meus braços, eu sinto Deus em forma de canção
Não levo jeito pra falar bonito, mas deixo aqui a minha explicação
Posso dizer que meu Deus é caipira, todo momento quando me inspira
E quando toca no meu coração